31 agosto, 2009

só existem certezas quando se encontram dúvidas. ele duvidou por momentos, mas depois pôde ter a certeza que apesar da distância ela amava-o, como nunca soube amar assim alguém. não que se possam escolher formas de amar, ou intensidades. o que é certo, é que ela amava-o. e soube dizê-lo depois da dúvida e depois da certeza de o sentir. ele ouviu-a, como nunca ouviu ninguém também. e os dois souberam fazer de um momento algo estranhamente inexplicável. o ar que respiravam era o mesmo.
situações silenciosas. ás vezes pode descobrir-se que há vida para lá do que se consegue e pode ver.

27 agosto, 2009

às vezes acontecem sentimentos que não acabam.

como se o corpo dela tivesse a forma do dele.

as mulheres amam os homens, entregam-se e experienciam desilusões. e os homens sabem que têm poder sobre elas, principalmente quando elas estão irrevogavelmente apaixonadas por eles. os homens são espertos, num mundo construído para pessoas espertas. ainda existem homens puros e inocentes, onde gestos sem malícia fazem com que sejam espezinhados e passados-a-ferro. as mulheres também magoam os homens. e ao longo dessa estrada feita de pedras pontiagudas, homens e mulheres desencontram-se. e quando se encontram descuidam-se. os homens não passam a vida a desiludir as mulheres, nem as mulheres fazem por magoar os homens. as mulheres desejam um-homem-para-si e para-sempre e os homens têm uma necessidade biológica de cuidar das mulheres, num gesto que acaba por não ter definição. sempre foi assim e sempre será.

possivelmente ela sabia que, mais tarde ou mais cedo, ele iria voltar. e, por isso, fez tudo a que tinha direito, mesmo nos momentos em que ele não esteve por perto. e ele voltou. e agradeceu, por ela não desistir nunca de si própria.

25 agosto, 2009

aquela viagem não era suposto ter durado todo aquele tempo. o carro ia a uma velocidade considerável, vidros abertos, respiração pausada e suave, e a brisa corria para dentro de si e dele. ela olhou-o e sorriu-lhe, e ele retribuiu, fixando-a por momentos. a música acompanhava os movimentos dela, e ele fazia a habitual espera de quem ama e de quem sabe sempre os caminhos dessas longas viagens. estenderam a toalha na areia, mesmo onde acabam as ondas e ficaram ali horas, com o sol e pintar-lhes a pele, a água a salgarem-lhes os pés e o olhar um do outro a fitarem-se como se de uma conquista se tratasse. no final, fizeram de conta que tudo aquilo aconteceu.

24 agosto, 2009

não dizer nada a ninguém. nem a si própria.
encontrava-se com ele sempre no mesmo sítio, até ao dia em que ele não apareceu. e ela não foi capaz de ir embora, até porque isso seria deixar de acreditar que ele vinha, ainda que tarde, mas vinha. e são assim que se fazem histórias, histórias-que-não-têm-fim. viagens no tempo, descobertas esperadas e pessoas que vão ficando, aqui e ali, perdidas em cada (re)canto da nossa espera.

23 agosto, 2009

"quero dizer-te que eu não te empresto nada. o que te ofereço é porque quero. eu não te empresto nada. e tu já eras o mundo inteiro antes de mim."
Sim, foste sempre mais do que aquilo que eu te empresto e muito mais do que aquilo que te sei dizer.
ter o mundo aos seus pés e não ter coragem de o agarrar e tirar-lhe o devido proveito. na maioria das vezes que tentou voar, não soube bem o que a esperava: se um abismo, se um voo infindável. poder ter as asas, a vontade e a força mas faltar-lhe o ar, o céu, o impulso para... até pode sentir que existe tudo para "dar certo", mas só o sabe (ou talvez o contrário) se tentar, se em vez de se esconder na sombra dos outros for ela mesma, se vestir o papel-principal, se encarar o público e assumir as consequências da sua personagem, porque das duas uma: ou recebe palmas misturadas com elogios ou vão-se embora depois de muito a criticarem. e na verdade, ela não tem nada a perder. o mundo não está aos seus pés, mas ela tem a coragem de lutar por ele e tenta tirar-lhe o proveito, todos os dias. porque todos os dias são dias, de voar.

22 agosto, 2009

foi numa noite de verão que te dei a conhecer os meus segredos. que conheci os teus pormenores. foi nesse momento que quiz tratar-te bem e que me tratasses bem. não por um momento apenas, mas talvez me pudesses falar dos meus segredos, e eu, dos teus pormenores.

21 agosto, 2009

empresto-te o que sinto. e tu agarras, um pouco descuidado. não sabes bem o que fazer com isso, nem eu, foi por isso que to entreguei. quer dizer, não foi só por isso. tanto faz se foi tarde ou cedo, tanto faz se vais saber fazer-me feliz ou não. e digo tanto faz, porque descobri que nunca é cedo para emprestarmos a alguém algo que sentimos, mas também nunca é tarde para sussurrarmos ao ouvido de alguém que colocamos tudo o que sentimos nas mãos de quem achamos que tem tudo para nos fazer felizes.

19 agosto, 2009

um dia o futuro falou-lhe. não sabe o que lhe disse mas sabe que sonhou com ele, dias a fio. outro dia, o passado chegou carregado de coisas que lhe pertencem e que agora parecem inatingíveis. preocupou-se com ele e disse, de forma insensata, que podia ficar. também era só uma noite.
ao acordar e ao olhar-se no espelho, viu uma miúda com o desejo nos olhos: o desejo de fazer a vida durar um segundo e uma eternidade, tudo ao mesmo tempo, como se isso fosse possível. viu a impotência a apoderar-se de si. ela atirou água fria para o seu rosto fino, sincero e apaixonado e constatou que os dias continuam 'a fio' e que afinal não era só uma noite...

18 agosto, 2009

quando nos separamos de alguém: ou acreditamos que essa pessoa volta ou acreditamos que iremos voltar, um dia. sim, porque separar significa que algum dia esteve junto, ou pelo menos perto. perto o suficiente para bastar estar longe e ser entendido como uma separação. separamo-nos de mil coisas ao longo da nossa vida, mas sem querer, por querer ou simplesmente acontece que as recuperamos. e o sabor das coisas recuperadas é tal e qual o algodão doce: leve, fofo e viciante. ainda bem que vais voltar, estou à tua espera.

17 agosto, 2009

amanhã vou andar de 'cabelo preso', apenas porque não gosto de coisas fáceis e com o 'cabelo preso' é mais difícil sentir o vento. ele não se mistura tão facilmente com o meu cheiro, com os meus pensamento e com o ar que eu teimo em respirar (todos os dias). eu quero senti-lo, por mais raros os instantes que isso possa durar. e prometo, desta vez, respirar bem devagar, não só para o sentir, mas também para o guardar. porque sei que, mais tarde ou mais cedo, vou precisar dele...

16 agosto, 2009

possivelmente sei o quanto sonhas em chegar a casa e eu estar à tua espera. possivelmente digo, porque as certezas nunca são certas. e na incerteza há sempre dúvidas. e nas dúvidas o desejo de respostas. responde-me só a uma coisa: quando foi a última vez que me ligaste só porque te apetecia dizer que adoravas ouvir a minha voz?
liberdade para dentro da cabeça. desejo de que os entraves sejam despejados nas ondas do mar, nos fins de tarde quentes de verão. música e dança. e a sensação de que hoje estou viva e de que amanhã não sei.. "se eu não gostar de mim, quem gostará?"

15 agosto, 2009

era como se o mundo estivesse suspenso numa pausa ao fim de tarde. e as conversas podem romper os inícios de noites que teimam em não acabar. na verdade não quero que acabem. a esperança mantém-nos a viver num lugar que não existe. para algumas pessoas é melhor que o sítio onde estão. para outras um consolo. para mim, basta somente acreditar que tenho tudo para fazer da minha vida - uma vida livre, arriscadamente serena, e com um sabor particularmente adocicado.

11 agosto, 2009

há qualquer coisa em ti que me faz desejar-te.
da próxima vez que voltar a estar contigo, falo-te de como gostava de ir à praia só para tirarmos uma fotografia, de sentar-me contigo onde acabam as ondas e poder gelar os pés, mas ter o coração a mil à hora.
o desejo pertence à paixão ou ao amor? não sei. eu não quero respostas, não ando à procura delas. quero momentos. quero-te a ti, porque me fazes falta.

10 agosto, 2009

a cumplicidade corre-lhes nas veias, é algo que não podem evitar ou fingir que não sentem.
os braços envolvem, as respirações ficam rítmicas, e os 40 cm tornam-se cada vez mais um pano de fundo.
e ela sente que, apesar de não gostar de fazer planos ou projectar o futuro, quer ficar assim, para o resto-da-vida.

foi baixinho. ela ouviu.
adoro-te.
como há muito não ouvia, nem sentia. um arrepio e a certeza de que, por ela, não mais acabava aquele abraço. até pode não saber se existe amanhã, até pode admitir que não esquece o passado, mas pelo menos sabe que da próxima vez que voltar a sentir-se apertada contra o seu corpo, vai querer respirar devagarinho ao seu ouvido e vai quebrar o silêncio desse momento com a mesma palavra que lhe dedicaram.
adoro-te. será a sua vez.

09 agosto, 2009

é fácil sentir liberdade, dificíl é vivê-la. e por mais que digamos que é possível, aprendemos que a liberdade não é uma conquista. o tempo passa, e ela fica presa a ele, como se quisesse que ele se movimentasse em câmara lenta. ele passa, ele passa.. o passado deixa marcas, o presente é pequenissímo para o mundo que ela precisa. depois disso, ela respira, vacila e sabe dizer 'eu um dia, vou saber voar'


cada dia é mais evidente que partimos.

04 agosto, 2009

Por meros momentos, passa-nos pela cabeça a efemeridade da vida. Há pessoas que sofrem todos os dias, são maltratadas, despejadas dos seus mundos, irrisoriamente ‘espancadas’ por causa de valores, ideias feitas e instaladas, preconceitos. E nós queixamo-nos, acreditando que faz todo o sentido a insatisfação, quando a barriga nos pesa de tão cheia que está! O tempo corre, a vida passa, as pessoas crescem, acabam os cursos superiores, casam, têm filhos, mudam de casa na esperança de construir ou descobrir o ‘lar, doce lar’. As pessoas traçam os seus próprios destinos, cada vez mais acredito nisto. É certo que a vida muda de máscara a cada passo, tanto sorri para nós, como nos dá um abanão e nos mete a chorar e a questionar ‘Porquê eu? Porquê agora?’. Porque sim… Não tem que haver resposta para tudo. E se gabam tanto a raça humana, há que ser flexível o suficiente para encarar as mudanças: de personalidade, de casa, de sonhos, de pessoas, de mundos… A flexibilidade não é fácil, as pernas e os braços por vezes ficam rígidos, os movimentos presos e as pessoas estupidamente incapazes de se expressarem e libertarem do emaranhado dos seus mundos.

A liberdade é o primeiro passo, de alguma coisa que nem sequer se sabe o nome.

Eu tenho a minha, e tu?

03 agosto, 2009

tenho pensado nas coisas que não fazem sentido e, na maioria das vezes, não entendo o sentido disso.
tenho pensado no quanto espero pelas coisas e o quão ridículo se torna essa espera.
tenho pensado quando é que defini que fazer planos não seria um lema na minha vida, ou uma simples e ténua filosofia.
tenho pensado nas vezes que me apeteceu fazer algo e não fiz.
tenho pensado na quantidade de vezes que deixei que palavras rompessem o silêncio quando só ele fazia sentido.
tenho pensado no quanto me apetece suspender a máquina do tempo.
tenho pensado que coisa é esta pela qual espero, sem planos ou com planos.
e depois disso, com a brisa suave e o som do Jazz a tocar baixinho, dou por mim a pensar apenas nas coisas que fazem sentido.

02 agosto, 2009

Passava já da meia-noite, quando ela decidiu enfiar-se debaixo da água amena e precipitada a sair do chuveiro. Tinha sido um dia desgastante e a sua cabeça parecia ter ganho volume com a quantidade de coisas que andavam pr’ali a chocar, como moléculas agitadas de um composto, umas com as outras. A água caiu-lhe no rosto, peito, barriga, pernas, pés e escorreu pelo cano do polibã. A música tocava ao fundo (era um ritual) e aquele barulho da água relaxava o manto de pele cansada que envergava nesse dia. Aproveitou para ficar horas ali, sem se ensaboar. Não esteve minimamente atenta às horas. Foi-se enrolar no robe, pingando o chão que pisava, e estendeu-se na cama assim mesmo… Adormeceu, porque o cansaço vence as pessoas em vários momentos da vida.

E nada, nem mesmo a sensação de frio desde a ponta dos pés até a um fio de cabelo, a fez sair daquela desconfortável posição, porque a vida é demasiado apressada, e ela demasiado especial e carismática para viver tudo aquilo, àquela intensidade.

Por favor, anda mais devagar, para que o mundo possa saborear-te, Vida!*

01 agosto, 2009

Loucura. Uma palavra, um mundo, algo que provoca sensações arrepiantes: adrenalina, taquicardia, sudorese, tremores, liberdade, flutuar antes de voar… Voar é algo que todos gostavam de experimentar mas que só alguns conseguem. Na maioria das vezes, nem sequer pensaram em tentar, simplesmente aconteceu.

Sinto que já voei, já caí, já aterrei devagarinho e em segurança e já me esborrachei no chão, porque de facto em alguns momentos, o voo pode ser demasiado alto, a queda pode tornar-se o dobro da altura…

Estamos de passagem, mas não devemos ser passageiros. Não é confuso, se pensarmos no que somos e no que vamos construindo ao longo da nossa viagem. As pessoas vêm e vão, tal como nós na vida de outros. São oportunidades, são caminhos diferentes e na maioria das vezes paralelos, são formas de ser e estar que fogem à regra, são escolhas…

Ninguém tem que ficar pelo caminho, porque o voo só acaba quando o coração pára, o cérebro congela e o sangue deixa de ser capaz de oxigenar cada célula do nosso corpo, porque ele não é exigente, mas só vive se nós também vivermos.

Não devemos esquecer que a queda pode não valer o salto, mas se não tentarmos nunca saberemos se valia ou não.

‘Falheremos 100% das vezes que não tentarmos’…

A vida é apenas um trampolim e nós ginastas sem conhecer o nosso potencial, num mundo onde só pode voar quem arriscar cair!

Excertos do livro ‘A saga de um pensador’ de Augusto Curry.

‘Ela espera’, presente do indicativo do verbo esperar. O combinado é não esperar. E as nossas vidas têm rumos tão diferentes e tão incertos que não vale a pena esperar. Jogamos os dados ontem, lembraste? Agora só temos que ‘esperar’ que o destino faça a sua própria justiça. Não acredito no destino, nos búzios, nas cartas que dizem com quem vamos casar, quantos filhos teremos, ou se algum dia teremos uma doença crónica, mas sim, gosto do cheiro a incenso, da bola de cristal, das pedras dos signos, das misturas orientais. Gosto de me camuflar nesses mundos, que não são meus. Estranhamente esperamos que mil coisas aconteçam. Tu esperas, a vida passa por ti, sem dares conta dela, dos seus segredos, dos seus pormenores. Sentes a angústia a invadir o teu mundo e encolheste.
Momentos depois vacilas e esperas que tudo passe. A verdade é que continuas aí, no mesmo sítio, com a mesma postura e quando levantas a cabeça para espreitar o mundo, vês que a vida, simplesmente passou por ti e nem sequer parou para te cumprimentar ou te dar a mão…