
Beija-me. Faz-me acreditar que existes em mim. Que todo o mundo lá fora não importa mais. Faz-me esquecer os anos que cresceram em nós. E beija-me outra vez. Agarra o silêncio nos meus lábios. Mistura o teu corpo no meu e deixa que eles se encontrem despidos de pudor, em movimentos descontrolados, com a paixão que nunca sentiste. Beija-me o cabelo, as pálpebras, a testa, o umbigo, as pernas. Beija-me sem início-meio-e-fim. Agarra-me e não me soltes mais de ti. Sussurra-me ao ouvido aquilo que temeste dizer-me até hoje. O fado já não espera até ao primeiro minuto do novo dia. Não me deixes ir. Diz-me agora o que sentes, faz-me esquecer de respirar e traça-me a vida para o lado do coração. E enquanto a noite se torna nas cinzas que pisaremos amanhã, só me resta o indelével silêncio e o cheiro pestilento da solidão dos momentos em que não estás aqui. Beija-me que prometo adormecer...