- Adoras falar, não adoras? - disseste-me.
São raras as vezes em que me lembro de te ouvir; normalmente és sempre tu a ficar com esse papel. Ouves, escutas e ficas em silêncio com as palavras a ecoarem no espaço vazio que tentamos ocupar.
Enruguei a testa e desviei o olhar, com medo que pudesses ver a vergonha chapada na minha cara.
Sempre que falo contigo, o mundo sai das minhas costas devagarinho. E a tua paciência envolve todo o meu corpo e faz-me sentir despida, mas aconchegada. Se calhar se não fosses tu, o mundo não seria tão fácil, tão leve, tão cheio. E os espaços vazios são apenas os que vão de um sorriso ao outro, do meu sorriso ao teu. Não há espaços vazios quando te beijo. E quando te beijo fecho sempre os olhos; na esperança de gravar esse momento para que, de todas as vezes que me apetecer beijar-te e não estiveres aqui, eu possa sentir-te com a mesma intensidade. Não há espaços vazios quando estou na tua pele. E tu não sabes o quanto eu gosto de estar na tua pele. E poder sentir o teu cheiro quando acordo a meio da noite, desorientada e rabugenta. Mas prefiro assim, prefiro que não saibas. E prefiro continuar a ter medo de gostar de ti. Porque gostar de ti, é mais ou menos como ter medo de te perder em cada viagem para o trabalho, ou em cada regresso a casa. Porque gostar de ti, é mais ou menos como ter medo de te perder aos bocadinhos.
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